quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Citando:
Julgo, aliás, que o amor, não bem o erotismo, foi por fim uma espécie de Valor que lhe redimia a vida inteira, ou, como ele dizia, qualquer coisa em que pudesse repousar a cabeça. Num tempo em que nada valia nada, surgia-lhe assim, sobretudo no fim da vida, uma forma de a justificar, como outros a redimem com a agitação política ou mesmo desportiva, que eram, segundo ele, um modo menor de a si mesmos se iludirem.

(...) O amor é tão monótono, querida. Porque ele é o cimo sensível de uma imensidade de coisas que se esqueceram. Como falar desse mínimo que é o vértice de todo um mundo que o sustenta? Falar de nada, que é o todo nele? Sandra. Podia dizer o teu nome infinitamente na multiplicação do que nele me ressoa. E é assim o que mais me apetece, dizê-lo dizê-lo. E ouvir nele o maravilhoso que me abala todo o ser. Poderia escrever o teu nome ao longo do que escrevo e teria talvez dito tudo. Mas eu quero desse tudo dizer também o que aí se oculta. Dizer o meu enlevo e a razão de ele me existir. As tuas mãos nas minhas. O incrível miraculoso de eu dizer o teu rosto. O ardor de um meu dedo na tua pele. Na tua boca. O terrível dos meus dedos nos teus cabelos. O prazer horrível até à morte da minha entrada no teu corpo.

Querida Sandra. É por isso que nunca nos amámos em total e clara revelação, penso agora. Pelo menos não me lembro. Sei de cor o teu corpo, mas justamente de cor e não quanto profundamente o amei. Mas quando foi que eu mais te amei? E de súbito lembro-me de que foi quando te perdi, quando separaste do meu, o teu destino.

Cartas a Sandra, Virgílio Ferreira






hoje acordei assim, melancolica! nostalgica!
apetece-me fugir! apetece-me correr, correr e correr...
mas para onde?
o que me está no coraçao eu levarei comigo... então vou ficar aqui sossegada, á espera que o meu coraçao esqueça...
sucumbi á preguiça! tudo não passa de uma vontade! tenho de arranjar força, voltar a ter ambição!
coração malandro o meu! cabeça estranha a minha!

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